Projeto quer revitalizar comércio tradicional do Porto
São três da tarde, está no centro do Porto e precisa comprar uma agulha. A tarefa pode ser mais fácil do que imagina, principalmente se conhecer o projeto Porto Paralelo, que pretende reatar os laços entre consumidores e comércio tradicional.
Já se foi o tempo em que o Porto era uma cidade sem centros comerciais, onde as compras eram feitas nas ruas, cada uma com a sua tradição comercial. Mas, apesar da crise e das grandes superfícies, a cidade consegue manter pérolas do comércio tradicional, ainda que muitas lojas estejam hoje em dia voltadas para o turismo.
É o caso da Casa Madureira, aberta desde 1944, especializada em têxteis para o lar, mas que hoje vende 90 por cento dos seus produtos para turistas. O mesmo não acontece com a Neves & Loureiro, loja especializada em equipamento elétrico há 66 anos, e que, além de manter clientes fiéis, faz entregas para vários pontos do país. Os exemplos são muitos e estão a ser compilados num mapa pela equipa do Porto Paralelo.
Tudo começou quando Marta Nestor, habituada desde criança a frequentar as lojas da Baixa, resolveu fazer o projeto final da sua licenciatura em design da comunicação, na Faculdade de Belas-Artes do Porto, sobre o principal problema do comércio tradicional: “a falta de comunicação”.
“Fiz o levantamento de 24 lojas, entre informação útil, história da casa e recolha fotográfica, e compilei tudo num roteiro chamado Porto Paralelo”, explica Marta Nestor. Quando acabou o curso, a designer sentiu que o projeto tinha pernas para andar e decidiu formar uma equipa para que o Porto Paralelo passasse de um projeto universitário para uma start-up.
A face mais visível do Porto Paralelo é, para já, um site onde é possível navegar por um mapa com as várias lojas compiladas pela equipa – neste momento lojas com mais de 50 anos de existência. Em breve, será lançada uma aplicação móvel. Mas o trabalho diário passa pelo contacto constante com os comerciantes, um dos pontos que distingue o Porto Paralelo de outras associações comerciais. “Sabemos que as outras associações, por questões logísticas, não têm capacidade de estarem no terreno diariamente e isso é o que queremos fazer”, conta Marta.
“Queremos aproveitar não só para alavancar o comércio tradicional, não o deixando morrer, mas também conservá-lo para um público que tem vindo mais à cidade, que são os turistas”, resume Marta, salientando que o Porto mantém uma característica que chama muito a atenção dos turistas: “a possibilidade de ter um espaço interessante num número de porta, mas depois ter toda uma rua que justifica esta época e esta história”.
Pensando nos turistas, e não só, o Porto Paralelo vai lançar em breve rotas pelo comércio tradicional e workshops. A partir de 2014, o trabalho de consultoria com lojas e associações comerciais vai ser também uma vertente do projeto que, de resto, já está a ser experienciada na rua de Cedofeita.
Alice Barcellos