São jovens, irreverentes e já acumulam uma série de prémios no currículo. Começaram por fazer projetos na área da arquitetura efémera e, hoje em dia, são um dos ateliers mais criativos do país. Os Like Architects surgiram no Porto e continuam a trabalhar na cidade, incubados na UPTEC, mas sempre de olhos postos no... mundo.
O coletivo de arquitetos que se lançou com um bar feito de caixas de plástico destaca-se por experimentar materiais não convencionais em instalações temporárias. Exemplos? Um museu de Andy Warhol com latas metálicas, uma instalação com lâmpadas LED no Centro Cultural de Belém ou com cones de trânsito num parque de Paredes. O atelier do Porto também tem dado luz a vários locais: desde iluminações de Natal, em 2011, na Praça D. Pedro IV em Lisboa, passando pelo Palácio de Belém, no ano passado, até a mais recente escolha para o Amsterdam Light Festival. Estivemos à conversa com Teresa Otto, que juntamente com Diogo Aguiar e João Jesus, fundou os Like Architects em 2008.
Os Like Architects, Diogo Aguiar, João Jesus e Teresa Otto. Foto: Ana Dias
Tiveram necessidade de expandir o projeto Like Architects, vê-lo mais como uma empresa?
Sim, é bom organizar a criatividade, porque há imensos processos que se tornam mais ágeis se as coisas estiverem arrumadas. É a questão de sermos mais eficientes e conseguirmos perceber qual é o potencial de negócio da nossa empresa.
As questões burocráticas do negócio eram as mais difíceis?
As empresas de arquitetura e de artistas em Portugal são bastante domésticas. Têm pouca visão empresarial e organizacional. Como nos diziam no início ‘há coisas que se acontecerem no momento certo, não dá dores de crescimento.’ E, como nós achamos que podemos fazer mais coisas, com mais escala noutros países, sabemos que isso não será propriamente muito fácil. Se nós conseguirmos organizar bem essa parte burocrática e organizacional, vamos conseguir crescer mais facilmente.
(I)cone em Paredes. DR
Tiveram necessidade de alargar a equipa nos últimos tempos?
Os Like Architects sou eu, o Diogo e o João. Somos os três da mesma idade e formados em arquitetura pela Universidade do Porto. Hoje em dia, temos a trabalhar connosco dois colaboradores arquitetos e um colaborador gestor que está a ajudar-nos nessa parte de crescer de forma mais consolidada.
O vosso foco continua a ser as instalações temporárias. Vão continuar a apostar nessa área ou querem encontrar outros desafios?
Nós não queremos sair. É uma questão de procurar novos deafios. Nós não temos nenhuma obsessão pelo edificado. A questão aqui tem a ver com o mercado. As empresas começam a procurar-nos exatamente porque nós temos esse aspeto diferenciador, fazemos estas instalações efémeras.
LEDscape no Centro Culturam de Belém. DR
São os únicos em Portugal a fazer este tipo de instalações?
Não somos os únicos, mas não há muita concorrência. Pelo menos com a escala e volume dos nossos trabalhos. O nosso core é o temporário e, depois, existem outros projetos, que até podem ser projetos-âncora para agarrarmos outras escalas.
No fundo isso já está a acontecer porque um dos vossos trabalhos sonantes foi o Museu Temporário Andy Warhol.
O trabalho do Andy Warhol foi um grande passo. Aquilo é um contentor, tem segurança, tem climatização. É um mini-museu feito para interior, mas já é um bom exercício para tentarmos alguma coisa que já tenha outras camadas de complexidade.
Museu Temporário Andy Warhol esteve num centro comercial em Lisboa. DR
É importante para vocês estarem ligados a uma incubadora de empresas?
Os Like Architects não nasceram aqui, mas a empresa cresceu aqui (na incubadora de empresas da Universidade do Porto). Para já temos um serviço bastante bom, nós gostamos estar aqui, até porque não estamos sozinhos. O ambiente da incubadora acaba por ser uma bandeira para os nossos clientes.
Onde é que se imaginam daqui a uns anos?
O próximo passo é a internacionalização. Uma das grandes perguntas é ‘como se internacionaliza uma empresa como a nossa’. Por um lado, podemos fazer, a partir do Porto, as nossas peças para várias partes do mundo. Por outro lado, essa distância pode valer contactos, pode ser um problema. Se calhar, podemos operar a partir do Porto ou, então, ter pessoas a trabalhar aqui, outras a trabalhar em Londres, por exemplo. É um pouco essa maneira de operar no mundo que estamos a tentar perceber.
Consideram-se mais artistas ou mais arquitetos?
Essa é grande luta, principalmente dos nossos pares arquitetos. A mim, isso não me interessa muito. É um trabalho, é bonito, é artístico e, nesse sentido, tem um potencial estético muito apurado e acho muito difícil chegarmos a essa depuração sem tirarmos o curso de arquitetura, porque vamos até ao parafuso. Há imensos conhecimentos (estruturais e mecânicos) que aprendi na faculdade. Para mim, é um bocado arquitetura, claro. Também é um bocado arte, nem que seja porque não tem função. Mas, na verdade, nós somos arquitetos. O que é que eu sou? Não sou artista, sou arquiteta. O que é que eu faço? Se calhar, é arte.
Joaquim Valente é o criador da Playnify, uma rede social que ajuda a encontrar parceiros para praticar desportos e onde, em breve, vai ser possível reservar espaços para a realização de jogos. Sempre teve o "bichinho" do empreendedorismo, até que decidiu apostar 100% num projeto próprio.
Há um ano, Joaquim Valente lançava, de forma tímida, esta rede social voltada para prática do desporto amador. Hoje são 13 mil utilizadores, uma “app” e novas funcionalidades para breve. Fomos conhecer o percurso deste empreendedor de 30 anos.
A Playnify surgiu em novembro do ano passado. Que balanço faz do primeiro ano do projeto?
Lançamos em novembro de 2012 o site com as funcionalidades mais simples, mais relacionadas com o lado social. Queríamos ter uma pequena base de utilizadores para recebermos feedback e afinarmos a máquina para depois fazermos outra investida, tanto ao nível nacional como internacional. Correu bastante bem. Já temos 13 mil utilizadores e temos recebido imenso feedback. Temos não só utilizadores em Portugal, como lá fora. A nossa comunidade em Londres é bastante ativa. Entretanto, concorremos a um concurso, em março, e tivemos um desconto num programa de incubação de três meses em Silicon Valley. Estivemos lá em abril, maio e junho.
Joaquim Valente é o CEO da Playnify. Foto: Alice Barcellos
Como correu a experiência em Silicon Valley?
O objetivo foi perceber bem Silicon Valley e explorá-lo ao máximo, mas também fomos para a costa Este, Boston e Nova Iorque. Passamos lá um terço do nosso tempo. Quisemos perceber melhor o ecossistema americano, a cultura desportiva e que parceiros poderemos ter. Fomos a vários eventos, conhecemos várias pessoas. Fizemos programas de incubação, entre eles, uma semana de incubação em Nova Iorque. A viagem serviu para recolher contactos e alinhar parcerias. Tivemos um ótimo feedback e temos gente que está interessada em colaborar connosco.
Lançaram a aplicação móvel da Playnify e preparam-se para lançar novos serviços. Qual é o vosso modelo de negócio?
Temos várias formas de ganhar dinheiro e o nosso negócio não é daqueles que dá dinheiro de imediato. Poderíamos tê-lo feito, mas preferimos apostar numa plataforma tecnológica mais robusta e que nos permite ir para várias direções e escalar o negócio.
Para já, centramo-nos nas funcionalidades de encontrar jogadores, mas vamos implementar a reserva de campos. Como fazemos no site Booking para reservar um quarto de hotel, vamos poder reservar um corte de ténis ou um campo de futebol através da plataforma de uma forma muito simples. Nas reservas de campo, os nossos clientes são as instalações desportivas. Mais para frente, vamos ter novas funcionalidades, que não vou falar para já. Para o utilizador final o serviço nunca terá custos e os nossos clientes serão, a curto prazo, as instalações desportivas. O nosso objetivo nunca foi somente o mercado português, foi sempre a escala internacional. E daí estarmos a fazer as coisas com esta cadência e com esta lógica. Trabalhar na internet é interessante mas Portugal é um mercado muito pequeno.
Hoje em dia há redes sociais para quase tudo. Como é que surgiu esta ideia?
Sempre pratiquei desporto, jogo ténis há quase 20 anos e tive sempre o problema de encontrar alguém para jogar, principalmente quando já não se está num clube. As pessoas querem encontrar outras que joguem ao seu nível. Por exemplo, quando ia de férias para o Algarve com os meus pais, levava as raquetes de ténis mas não conseguia encontrar ninguém para jogar. Já na faculdade, só no meu ano éramos 200 e às vezes não conseguíamos arranjar pessoas suficientes para jogarmos futebol. Havia este problema, muitos jogos que se deixam de realizar porque a nossa rede de contactos é limitada. É um problema que existe a nível mundial. Na altura estava a fazer o Magellan MBA, na Porto Business School, e comecei a fazer o plano de negócios da Playnify. Entretanto, fui trabalhar para Critical Software mas depois acabei por me demitir da Critical para lançar a Playnify.
A equipa da Playnify tem 10 elementos que se dividem entre Porto, Aveiro e Boston.
Já existem redes sociais do género. O que distingue a Playnify das outras?
Existem algumas plataformas mas são muito locais, nós temos um foco mais generalizado para várias entidades do ecossistema desportivo. Tentamos resolver o problema não só de desportistas mas também de associações ligadas ao desporto e de uma série de outras empresas ligadas à indústria.
Acreditava que o projeto iria ganhar esta dimensão em pouco tempo?
Sabia que íamos ter adesão porque o conceito por si só é sexy. Fiquei muito contente de, sem esforço de marketing, termos conseguido 13 mil utilizadores.
Por que é que decidiu deixar um emprego estável e investir numa ideia própria?
A minha formação de base é engenheira civil. Enquanto trabalhei como engenheiro civil fui tendo projetos à parte. Estive sempre envolvido em mais alguma coisa, noutros projetos mais ligados ao software e à gestão. Estava habituado a trabalhar fora de horas e em várias coisas ao menos tempo. A dada altura, tinha tantos projetos e até estava a ganhar um bom dinheiro, mas decidi deixar tudo e dediquei-me ao MBA, porque precisava de uma formação em gestão. Entretanto, trabalhei na Critical Software mas resolvi sair e dedicar-me a full-time à Playnify. Tinha aquele desejo empreendedor e não consegui resistir. Nesta altura, o driver não é tanto o dinheiro mas o gosto de fazer uma coisa nova. Não tenho uma vida tão confortável, não tenho a segurança que poderia ter agora com 30 anos, mas sei que estou a aprender imenso com estas experiências.
Hoje em dia o empreendedorismo é quase uma obrigação. No seu caso, foi por opção e vontade. Corre melhor assim?
Portugal evoluiu bastante e ainda bem que os jovens estão a voltar-se para o empreendedorismo porque é o que faltava neste país. Eu, com 30 anos, sou de uma geração em que a malta não é empreendedora. A malta quer trabalhar para outros e é muito adversa ao risco. E para mim foi difícil encontrar pessoas para entrar nestes projetos. Hoje em dia é mais fácil. Espero com o Playnify poder contribuir com um exemplo positivo para os mais novos. Quando decidimos seguir este caminho, há sempre um risco, pode resultar, como pode não resultar, mas ganhamos sempre com esta experiência.
Acompanhar plantações à distância através de um sistema de sensores e de uma plataforma online. A ideia surgiu num trabalho de faculdade e hoje é um dos projetos mais promissores a nível mundial da tecnologia aplicada à agricultura. Chama-se WiseNetworks e é português.
A ideia surgiu quando o grupo de seis engenheiros que desenvolveram o produto ainda eram estudantes na Faculdade de Engenheira da Universidade do Porto. Na altura, aplicaram o sistema à domótica, mas, quando acabaram o curso, repararam que a agricultura era uma área que tirava pouco partido da tecnologia. Havia uma necessidade e eles decidiram responder com a WiseNetworks.
Há um ano atrás começaram a desenvolver o projeto e este mês foram selecionados entre cerca de 1400 start-ups de 63 países para passarem sete meses no Chile, recebendo um investimento de 40 mil dólares do programa Startup Chile. Fomos saber mais sobre a WiseNetworks, numa conversa com Tiago Sá, Sandro Vale e Miguel Rodas, três dos seis elementos da empresa.
A vossa start-up foi selecionada entre centenas para desenvolver o produto no Chile. O que fez sobressair a vossa ideia no meio de tantas outras?
Tiago Sá: O nosso produto consiste num sistema de pontos de medição que ao serem espalhados por uma plantação, seja ela qual for, adquirem informação periodicamente. Essa informação pode ser a temperatura, a radiação solar, a velocidade do vento, etc. Enfim, qualquer sensor que exista pode ser incorporado no nosso sistema, não só meteorológicos, como também sensores de componentes do solo, como por exemplo, o PH ou a condutividade, a humidade do solo – fatores relacionados com o crescimento da planta. Esta informação é recolhida por estes pontos de medição, é trabalhada e depois é imediatamente disponibilizada online. O produtor, onde quer que esteja, desde que tenha acesso à internet, consegue perceber o que se passa na sua quinta naquele momento.
Tiago Sá, Miguel Rodas e Sandro Vale.
Quais são as principais vantagens?
Tiago Sá: As grandes vantagens que isso traz para o produtor é evitar deslocações desnecessárias à quinta. Otimizar recursos. Água, pesticidas e fertilizantes podem ser ajustados consoante às quantidades que são estritamente necessárias, de acordo com as medições. Pode precaver-se contra as mudanças súbitas no clima, por exemplo, vagas de calor ou tempestades que se aproximem, com esta medição precisa e instantânea. Na plataforma, também é possível ligar o sistema de rega.
Sandro Vale: Existe uma comunicação bidirecional, da plantação para a plataforma e da plataforma para a plantação.
Já existem tecnologias semelhantes.O que distingue a vossa?
Tiago Sá: Existem coisas parecidas, mas aquilo que oferecemos neste momento é único. No entanto, o que é novo hoje, amanhã deixa de ser. Por isso, temos que aplicar já o nosso produto e estamos num bom momento para o fazer.
Como surgiu a ideia?
Miguel Rodas: A ideia surgiu na sequência de um projeto académico em grupo numa das disciplinas finais do curso e desenvolvemos um sistema semelhante a este mais aplicado à domótica, ao controlo de casas. O produto resultou, mas era apenas um projeto simples, um trabalho para uma cadeira da faculdade.
Tiago Sá: Aquilo que vimos foi que essa tecnologia tinha potencial para ser aplicada noutras áreas. Daí partimos para uma pesquisa de mercado e percebemos que a agricultura era um mercado interessante, não só porque não incorpora tecnologianenhuma ou quase nenhuma neste momento, mas também porque há esta necessidade clara dos produtores perceberem o que se passa nas suas quintas instantaneamente, onde estiverem.
Acabaram o curso e começaram logo com este projeto?
Sandro Vale: A maior parte da equipa nunca pôs de lado o projeto, alguns elementos foram trabalhar, mas sempre em paralelo com o nosso projeto. Quando tivemos a oportunidade, dois elementos começaram a dedicar-se a full-time e, dentro de pouco tempo, estaremos todos.
Quando o produto vai ser lançado?
Tiago Sá: O produto neste momento ainda está em fase de testes, dentro de portas. Estamos a adaptá-lo para ser possível transpô-lo para o ambiente real, para uma quinta. Já temos contactos com quintas no Douro que se disponibilizaram para receberem os testes. O nosso objetivo é começar com os testes ainda este mês para quando formos para o Chile, no final de novembro, já levarmos o protótipo completamente funcional, testado e pronto para ser vendido.
O sistema vai ser testado em quintas do Douro. Imagem: LUSA
Como é que vai ser feita a implementação do produto numa quinta?
Miguel Rodas: A ideia é tirar aquilo da caixa e pôr no terreno a funcionar. É ser autoconfigurável. A plataforma deverá ser suficientemente intuitiva para não precisar de qualquer tipo de apoio e de instrução prévia.
É um produto dispendioso?
Tiago Sá: É um produto que pretende ser rentável, mas garantimos que o preço de venda vai ser amortizado com as vantagens que o produto trará. O valor final ainda não está definido.
Por que decidiram concorrer ao programa Startup Chile?
Tiago Sá: Achamos interessante pelo investimento, pela possibilidade de ir para outro país num ambiente empresarial entre outras start-ups e pelo país para onde vamos. O Chile é um país em crescimento, principalmente na agricultura, na área das vinhas.
Miguel Rodas: Há países vizinhos que também são importantes, como Brasil, Peru ou Argentina. É uma maneira de internacionalizar a empresa. Mesmo antes de concorrer ao programa, o Chile foi sempre um país que sabíamos que valeria a pena entrar.
O que vão fazer durante estes sete meses?
Tiago Sá: O principal objetivo é conhecer o mercado, saber como funciona, saber o interesse deste mercado no nosso produto. Começar a vender. Conhecer os mercados ali à volta. Perceber as mentalidades e a abertura para este tipo de tecnologia.
Hoje em dia, o que é ter uma start-up em Portugal?
Sandro Vale: Nesta altura, é complicado. A procura de financiamento nem sempre é fácil. Existe sempre a dificuldade de captar o interesse e o investimento. Mas o empreendedorismo em Portugal está a crescer e este apoio da UPTEC cria muitas oportunidades.
Tiago Sá: É uma aventura. Ser empreendedor nesta idade é só obstáculos. Somos novos, não temos credibilidade. Temos que aprender, na faculdade não nos ensinam a vender e a conhecer o mercado. Ser empreendedor é derrubar barreiras todos os dias.
Miguel Rodas: É criarmos o nosso próprio emprego e fazermos tudo. Somos desde CEO até empregado de limpeza.
A equipa da WiseNetworks é muito jovem, todos têm menos de 30 anos.
Quais são os planos futuros para a vossa empresa?
Miguel Rodas: Ter um crescimento sustentável e conquistar o mercado chileno, mas era bom ter uma base sólida em Portugal.
Tiago Sá: Queremos conquistar tecnologicamente a agricultura mundial.
Alice Barcellos
Olá!
Seja bem-vindo. Se chegou até aqui veio à procura de ideias novas, negócios em ascensão e mentes criativas. Este blog é o lado mais visível da parceria entre o Portal SAPO e o UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto. Fique mais um pouco e sinta-se em casa :)